quarta-feira, 23 de junho de 2010

Artigo-

PSICOPEDAGOGIA INSTITUCIONAL E OFICINAS PSICOPEDAGÓGICAS: UMA PARCERIA POSSÍVEL PARA O PROCESSO DE ENSINAR E DE APRENDER


NADIA ROCKENBACK- RU 536213



INTRODUÇÃO:

O presente trabalho tem como enfoque a parceria, entre a Psicopedagogia Institucional e as Oficinas Psicopedagógicas, voltada para o processo de ensinar e aprender.
Para tanto, serão abordados conceitos relevantes das disciplinas destacadas que servirão de base para a resolução, embora parcial, da problemática que atinge uma determinada instituição.
Nesse contexto, apresentar-se-á a queixa propulsora do processo de intervenção psicopedagógica, assim como, as hipóteses que indicarão o caráter do obstáculo que está impedindo o fluxo qualitativo e quantitativo do ensino na instituição relatada.
Têm-se como temática principal a evasão escolar que corrobora como um dos fatores negativos enfrentados pelas Instituições de ensino e seus pares.
Muitas são as questões que surgem diante de um problema que aflige todos os envolvidos no processo de ensino/aprendizagem. Quais seriam os obstáculos enfrentados pelas instituições de ensino que levam a desistência total ou parcial da sua clientela? O que desmotiva objetivamente o alunado a desistir da escola? Como resolver a crise que se encerra claramente no sistema de ensino, se a evasão ainda é um “fantasma” que atinge a oferta de vagas nos bancos escolares?
Diante desse quadro que, aparentemente, é histórico e socialmente embasado, qual é o papel do profissional psicopedagogo? Poder-se-ia afirmar que uma intervenção psicopedagógica, por si só, garante a solução de todas as “mazelas” no processo de ensinar e de aprender? Certamente, não.
Leva-se, portanto, o compromisso de responsabilidade e ética profissionais, associado à pesquisa e interrelação científica e pessoal, como diretrizes para uma intervenção psicopedagogica em um caso hipotético apresentado.



2. DESENVOLVIMENTO

2.1 Conceitos:

Antes de recorrermos aos dados oferecidos pela queixa institucional, faz-se necessário comentar e argumentar sobre alguns conceitos que devem ficar claramente definidos para que a proposta desse trabalho seja embasada na compreensão dos mesmos.
Sabe-se que toda relação é precedida de pelo menos duas vias. Assim, diante de um diálogo, pressupõe que a comunicação entre os envolvidos aconteça de forma clara e precisa. E, ainda, que as partes tenham as suas expectativas atingidas da melhor maneira possível, sem perda significativa para ambas as partes.
No sistema educacional, ou em qualquer outro sistema, não seria diferente. A comunicação entre os pares é o caminho prioritário para a resolução dos problemas que por ventura sejam construídos.
Toma-se o conceito de sistema “como um conjunto de elementos, materiais ou não, que dependem reciprocamente um dos outros, de maneira a formar um todo organizado.” OLIVEIRA, 58. E, o sistema escolar, parafrasendo a mesma autora, é um sistema aberto já que se interrelaciona com outros sub e suprassistemas.
No que tange a linguagem, temos a diretriz que nos direciona para a mesma noção de “trama” vertical, horizontal e global, quando recortamos a interrelação multifacetada da língua.
Assim como, o diagnóstico picopedagógico “deve ser entendido como uma dinâmica de relações que se estabelecem acerca do foco do diagnóstico e que deve ser estendida sistematicamente.” OLIVEIRA, 63.
Abordam-se tais conceitos para alertarmos que o profissional psicopedagogo precisa manter um olhar multidisciplinar e cultural, não apenas nos conceitos nos quais se embasa, mas na ideia de que o indivíduo não é um ser linear.
O aspecto linear também não faz parte do caráter institucional da escola. Não é possível, portanto, criar hipóteses para resolver algum conflito sem perceber que há uma gama de possibilidades para que tal conflito seja solucionado.
A escola, instituição de estudo desse trabalho, apresenta uma estrutura material composta pelo espaço físico e objetos, por exemplo, e por uma estrutura humana e seus valores pessoais e coletivos.
Fatos esses que colocam o psicopedagogo diante de uma estrutura que precisa relacionar-se, para que os conflitos sejam encarados como meio e não como fim; para que o diagnóstico abranja todos os sistemas envolvidos e para que a aprendizagem auxilie no desenvolvimento global dos “indivíduos”.

2.2. Análise da “Queixa”

“A Instituição Y., no município X, atende a modalidade de Educação de Jovens e Adultos / EJA e em nossa visita ao estabelecimento para desenvolver nosso estágio institucional, a Coordenadora Pedagógica nos relatou que a maior dificuldade que a escola está enfrentando no momento é a Evasão Escolar nesta modalidade, pois tem atingido um percentual de 39% ao final do primeiro semestre. A situação preocupa muito a equipe gestora, envolvendo os docentes e discentes, pois estão cientes que se este índice tão grande de evasão continuar, a modalidade de Educação de Jovens e Adultos, não será mais oferecida para a comunidade. Com isso os alunos do próprio bairro serão transferidos para outra instituição, certamente uma que tenha níveis de frequência mais significativa”.

Diante da queixa a ser analisada, nota-se que a temática “evasão escolar” sai do discurso meramente costumeiro e traz consigo uma situação concreta de incômodo, um obstáculo que não permite que instituição educacional citada encontre o equilíbrio escolar satisfatório.
Os indivíduos – alunos, escolas, família, sociedade etc – estão inseridos em sistemas e fazem de si um microssistema ou um macrossistema. (grifo meu). Com isso, nada pode ser deixado de lado durante o processo de intervenção psicopedagógica.
OLIVEIRA, 27 apud BARBOSA (2001) quando trata do ser cognoscente: “As diferentes dimensões que o constituem tornando-o um sujeito temporal e histórico, que vive em um tempo, carregando consigo o conhecimento de outros tempos...”. E ainda, “como sujeito sistêmico ele está inserido em uma teia de relações universais, e como sujeito biológico possui determinantes que não o completam...”, pois necessita interagir cultural e socialmente.
Fatos da situação problemática: evasão de 39% dos alunos; preocupação da equipe pedagógica; o receio de que a modalidade de Educação de Jovens e Adultos não seja mais oferecida; a comunidade perderia com a diminuição ou retirada dessa modalidade, já que a transferência para outra instituição poderia alimentar mais a evasão por causa do deslocamento ou qualquer outro fator que não ofereça conforto aos alunos.
Cabe ao psicopedagogo intervir nessa situação, tendo em vista todos os fatores que envolvem a problemática, assim como, todos os elementos que fazem parte desse processo de aprendizagem. E, nortear o seu trabalho com uma visão multifocal, multidisciplinar e, principalmente, de forma clara e sistemática, como exige o contexto em que será inserido e passará, portanto, a ser um elemento mediador a mais no grupo.
A matriz do pensamento diagnóstico tem, segundo BARBOSA, 16, algumas ações utilizadas pelo psicopedagogo. Dentre elas estão: a análise do contexto e leitura do sintoma (visão multidirecional); Explicações das causas que coexistem temporalmente com o sintoma.


2.3. Análise dos obstáculos

A partir da pergunta “Qual o motivo ou o obstáculo que está levando os alunos(as) a se evadirem da escola e com isso gerando um índice tão grande de evasão?” , o psicopedagogo tem uma situação/problema que pede uma gama de repostas que não a delimite na íntegra, mas que auxilie nas mudanças necessárias para a mudança do quadro que se instaura na instituição.
Um índice de evasão de quase 40% do grupo discente em sala de aula é, no mínimo, preocupante. Então, tal fator precisa ser analisado e suas causas investigadas por todo grupo que está envolvido. E, o fato de a direção e equipe pedagógica num todo abrirem as portas da escola para uma intervenção psicopedagógica, já é, certamente, o primeiro passo para uma possível resolução.
Com base em poucas informações sobre o grupo em questão, não é possível definir ao certo qual ordem de obstáculo está norteando o sintoma que atinge a instituição. Todavia, hipoteticamente, é possível fazer um levantamento os obstáculos agravantes em âmbito geral.
Para tanto, segue-se a linha de VISTA;19 - citado por OLIVEIRA;66:

Obstáculo de ordem do conhecimento: Falta coerência entre o discurso político-pedagógico e a prática cotidiana. Nesse contexto, a escola teria, em seu regimento escolar, diretrizes que fortaleceriam a permanência dos alunos na escola, mas, na prática, não as utiliza, de fato. Não há controle da presença dessa clientela, por tratar-se de jovens e adultos, por exemplo, embora exista uma pauta de presença. Assim, os alunos, sem a obrigatoriedade dos 75% de presença definido por lei, faltariam. Nem há, tampouco, uma política que esclareça devidamente a parte de responsabilidade relativa ao alunado na sua própria formação acadêmica.
Obstáculo da ordem da interação: A comunicação não acontece de forma clara e satisfatória e, com isso, surgem os problemas entre as relações vinculadas pelo grupo. Nesse caso, sem interação consolidada e flexível, o processo de ensino/aprendizagem fica comprometido e a evasão é notória.
Obstáculo da ordem do funcionamento: O funcionamento da instituição acarreta o compromisso desse mesmo funcionamento. Portanto, se algo não é bem administrado ou se a metodologia educacional não atinge a sua proposta como um todo, ou ainda o espaço não favorece o ensino/aprendizagem, torna-se favorável a desistência total ou parcial por parte dos alunos.
Uma possibilidade que poderia influenciar na queixa apresentada é a superlotação das salas de aula. Oferece-se o curso de suplência ou EJA, mas contrata-se um corpo docente que atenda apenas uma turma. Isso faz com que a sala tenha excesso de alunos desestimulando um determinado grupo, favorecendo a evasão escolar.
Obstáculos de ordem estrutural: As noções de macro e micro sistemas devem determinar a organização da instituição de ensino, assim como, os níveis hierárquicos e as relações entre os pares.
A falta de um determinante de comportamento, por exemplo, pode acarretar um desequilíbrio hierárquico dentro da instituição, dificultando ou impossibilitando o ensino ou aprendizagem.

3- PROPOSTA INTERVENTIVA:

Acredita-se que para a problemática da evasão escolar não há escolha de um dos obstáculos, mas sim de uma associação entre todos os fatores que possam influenciar de forma direta ou indireta na dificuldade do processo de ensinar e aprender.
Porém, enfoca-se a necessidade de possibilitar ao aluno que se afasta da escola caminhos para o autoconhecimento e auto-estima, e disponibilizar momentos nos quais esse aluno possa interagir com os demais componentes do grupo escolar a fim de promover a sua capacidade cognitiva e o uso dessa habilidade na resolução de problemas não apenas de ordem escolar.
As oficinas psicopedagógicas têm um papel facilitador e orientador, mas sozinhas não atingem o objetivo como um todo. No entanto, são de grande valia e contribuem para a troca de experiências e para o caráter multidisciplinar que encerram.
A escolha da proposta de trabalho de Alessandrini apresentada por Grassi 159 não foi de forma aleatória, porque a proposta engloba tais fatores acima abordados.


Proposta de Trabalho

Tema: “Descobrir-se é... Inventar-se em todos os momentos”
Objetivo Geral: Estabelecer uma relação mais estreita entre os pares escolares.
Objetivos específicos: Ofertar um momento de reflexão individual e coletiva; Sensibilizar o alunado sobre a importância da aprendizagem; oferecer subsídios para que todo o grupo possa contribuir para o processo de ensino/aprendizagem;
Público-alvo: Alunos do Ensino de Jovens e Adultos; Instituição de ensino e comunidade em geral.
Duração: 4 horas
Local: Quadra da escola
Recursos utilizados: Aparelhos multimídia (som, data-show); cartolina e materiais escolares diversos (lápis de cor, canetas, cola e papéis).

Primeiro Momento:
Sensibilização:
_ Apresentação do vídeo cujo tema é “O ser humano”;
_ Momento de reflexão: os participantes são convidados a escrever quais são os seus objetivos, seus sonhos e suas conquistas em uma folha de autoavaliação;
_ Atividades lúdicas: dinâmica de grupo, brincadeiras e jogos (“das cadeiras”, “dominó”, balões, por exemplo);
Expressão livre:
_ Oficina de criação: literária, construção de brinquedos, teatro e música. ( divididos em pequenos grupos, escolhem a oficina que mais lhes convém).

Segundo Momento:
Elaboração da expressão:
_ Finalização da oficina com a apresentação dos trabalhos criados a todos os participantes;
Comunicação e transposição:
_ Soletrando e concurso de tabuada. (Nesse momento, serão estimuladas e analisadas as habilidades dos participantes nesses processos de associação.
Avaliação:
Dinâmica de grupo: “O balão em movimento” (Distribuem-se balões entre os participantes. Cada balão tem uma mensagem, e, ao som de uma canção, eles serão jogados pra cima. Ao estourarem, o participante lê a mensagem e interage com os demais).
Finaliza-se com um debate que visa fortalecer o vínculo entre os participantes e avaliar o processo como um todo.

4- CONSIDERAÇÕES FINAIS:

Nota-se, ao avaliar a queixa sob o foco desses obstáculos, que há uma relação direta entre todos eles. Não há, portanto, como separar a problemática por ordens de obstáculos, sem perceber que esses se permeiam e fazem parte de um todo significativo.
A escola passa por um problema de evasão escolar e teme que as vagas para esse nível de ensino não sejam mais oferecidas. E, com isso, os alunos sejam remanejados para outra instituição de ensino; fator esse que dificultará o acesso dos alunos à escola. Temos, então, uma evasão que poderá gerar outra evasão.
Assim, a intervenção precisa englobar tanto o contexto escolar, quanto o social e cultural. E, por intermédio do diagnóstico concebido, propor as melhorias necessárias para a resolução do problema.


REFERÊNCIAS:

GRASSI, Tânia Mara. Oficinas Pedagógicas. Curitiba: Editora IBPX, 2008.
OLIVEIRA, Mari Ângela Caldari. Psicopedagogia: a instituição educacional em foco. Curitiba:Editora IBPX, 2009.