segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Estudo do Caso JONAS: Contribuição Psicopedagógica diante da Epistemologia Genética, Neuropsicologia e Psicanálise para a instituição escolar.

Estudo do Caso JONAS: Contribuição Psicopedagógica diante da Epistemologia Genética, Neuropsicologia e Psicanálise para a instituição escolar.

NADIA JOSIANE ROCKENBACK
RU: 536213

1- Introdução
O presente trabalho tem como objetivo analisar o caso “Jonas” sob uma perspectiva psicopedagógica aliada às disciplinas de Neuropsicologia, Psicanálise e Epistimologia genética, com o intuito de contribuir no âmbito institucional.
Cabe recordar o principal papel do psicopedagogo que é auxiliar no processo ensino/aprendizagem e, com isso, desenvolver no seu paciente as habilidades necessárias para que haja o desenvolvimento da capacidade de aprender.
Somos seres em desenvolvimento constante. Indivíduos capazes de interagir com o meio que nos envolve. “Meio que nos envolve” um envolver-se com o envolvido. Uma dialética proposta de ensinar.
Assim, ao examinarmos o caso “Jonas”, elevamos o status da observação à análise. Em dois momentos distintos, mas interligados, nortearemos tal análise.
Primeiramente, precisamos avaliar quais são os fatores que interferem na aprendizagem de “Jonas”. Com base nos teóricos - Jean Piaget, Pichon Rivière e Sigmund Freud – e com as linhas pertinentes de suas pesquisas, faremos a análise da queixa apresentada.
No segundo momento, serão explorados alguns enfoques de possíveis intervenções psicopedagógicas que auxiliarão a escola, os professores e todos os envolvidos nessa relação de oferecer a “Jonas” a possibilidade de desenvolver-se em todos os setores que lhe compõem: o afetivo aliado ao social e ao cognitivo.

2- Análise o caso “Jonas”

Ao analisarmos o caso “Jonas” sob o foco psicopedagógico, avistamos um indivíduo ainda no estágio pré-operacional segundo os aspectos teóricos e Jean Piaget.
Os elementos que reforçam essa observação são características do período simbólico: o fato do menino desenhar com o dedo no ar e falar com “voz eletrônica” assegura, segundo BARROS (1993), o período em que a criança utiliza-se de símbolos mentais para representar o real.
Seguindo as idéias de Piaget:
“Cada estágio é caracterizado pela aparição de estruturas originais, cuja construção o distingue dos estágios anteriores O essencial dessas construções sucessivas permanece no decorrer dos estágios ulteriores, como subestruturas, sobre as quais se edificam as novas características” (PIAGET, 1997. P. 13)
Percebe-se que o fato de “Jonas” não entender o óbvio e manter-se avesso ao funcionamento interno da calculadora corrobora para a sua “inclusão” no período da centralização, do não perceber o concreto e a interligação entre o que existe de fato nas operações matemáticas citadas (abstratas).
Ele, de acordo com os critérios de Piaget, deveria encontrar-se nos estágio das “operações intelectuais concretas”, ou seja, no começo das operações lógicas. Mas, de acordo com o relato apontado na queixa, Jonas ainda no estágio dos sentimentos interindividuais espontâneos e de uma relação de submissão social.
Observa-se o “falar consigo” o desenhar no ar passa a ser um monólogo/dialógico. Em contrapartida, o desejar aprender precisa ser estimulado. Daí a necessidade de explorar o que realmente está impedindo a “Jonas” aprender.
A procura pela “gênese do conhecimento” afasta-nos da noção de guia de ensino, ou melhor, afasta-nos do plenejar para um grupo homogêneo e sem variações comportamentais no que tange o sujeito e as suas possibilidades de aprendizagem.
“Jonas” precisa aprender e o psicopedagogo pode oferecer-lhe meios para que ele mesmo supra as suas dificuldades. Pois, se “cada abordagem do conhecimento implica não respectivo saber, mas todos os saberes que a compõem” (BALESTRA, 2007.p.25) o indivíduo também é composto por toda uma gama de competências que podem ser afloradas e que inerentes a essas existem sempre novas propostas de promoção da identidade desse individuo.
Se percebo o outro... Se observo as habilidades que afloram a cada andar da aprendizagem, posso perceber que tudo faz parte dele.
Fala-se em globalização, em pressa, em saber tudo de tudo. Nem percebemos que distanciamos o nosso aluno da sua integridade. Há uma contradição entre expandir o global do aluno, se, na verdade, o fragmentamos ao desejar enquadrá-lo ao ensino conteudista e moldador.
Tem-se, portanto, um aluno que possui inúmeras maneiras de aprender e de aproveitar o que aprende; e isso deveria demonstrar o quanto ele precisa da oferta de multiplos caminhos para isso.
A auto-estima vem com o conforto. Apresenta-se quando se tem o acolhimento de nós mesmos e do outro. Acredito que poderíamos chamar de intra e inter-relações. Então, no ambiente de aprendizagem, precisamos aflorar o que há de construtivo e permitir que o aluno se resgate como ser único e responsável pelas bases que cria.
O clínico e o institucional na psicopedagogia, a saber:

O profissional busca compreender integralmente o sujeito, como ele aprende, que dificuldades e que habilidades apresenta, qual sua modalidade e aprendizagem, e analisa fatores emocionais, sociais, econômicos, culturais, familiares, escolares, cognitivos, orgânicos, pedagógicos, enfim, todos os fatores que podem ser determinantes para as dificuldades de aprendizagem”. (GRASSI, p.143).

Com base nas observações de Gasparian 36, podemos dizer que o psicopedagogo institucional é um profissional especializado no processo ensino e aprendizagem e suas dificuldades. Para atuar no espaço institucional, precisa considerar todos os elementos envolvidos no processo e dominar conhecimentos sobre a constituição do sujeito humano e suas variações evolutivas; como o sujeito aprende e se desenvolve; de que recursos dispõe para aprender e como aprende, como se apropria dos conhecimentos novos, inserido num grupo, e como se relaciona nos diversos grupos de que faz parte. (GROSSI, p.148).

O processo de aprendizagem é norteado e norteia quem aprende. No decorrer das disciplinas cursadas, observou-se a interligação das mesmas e a forma como são interdependentes.
A essência do conhecimento e as possibilidades de abertura em relação ao tema trazidas pela epistemologia genética de Piaget fazem do aprendente o ser como foco e capaz de interagir com os objetos que lhe são obstáculos. Obstáculos aqui ganha a significação de superação e não de impedimento.
Os mecanismos que compõem a adaptação, segundo PIAGET, reforçam a capacidade do indivíduo de entender intrinsecamente os processos que ele mesmo desencadeia ao longo das etapas. Assim, ele torna-se capaz e assimilar algo e formar esquemas de ação para que o resultado se acomode como estrutura em sua vida.
“Jonas” descobriu o funcionamento da máquina de calcular e isso se acomodou como resultante de um saber novo.
A neuropsicologia é uma ciência capaz de direcionar subsídios teóricos e práticos que auxiliam, e muito, o “despertar” para o entendimento do indivíduo como um todo.
Somos capazes de questionar e de viver em sociedade... E de aprender com o meio numa relação dialógica e comprometida. Portanto, somos capazes de viver de uma forma planetária no que tange o sentir e agir adequadamente.
Se “Jonas” apresentou problemas de saúde que deixaram seqüelas no modo de aprender, cabe ao profissional psicopedagogo investigar até que ponto isso virou “marca” em suas possibilidades e dialogar com os laudos técnicos dos outros profissionais envolvidos.
Observa-se na teoria da disciplina de neuropsicologia o conteúdo sobre os maiores surtos do crescimento cerebral e com isso pode-se observar que “Jonas” pode ter algum resquício da doença que lhe atingiu que prejudicou o andamento das fases desse crescimento.
O importante é que a escola ofereça um suporte investigativo amplo que englobe o aprendente e esgote todas as possibilidades de dúvidas. Agindo assim, a escola auxilia n desenvolvimento do aprendente e corre menos risco de interpretar erroneamente as lacunas que esse aprendente apresenta no processo ensino/aprendizagem.
Encontramos na psicanálise o olhar crítico e o recorte que investiga os modelos que vamos criando ao longo da vida. Segundo a psicanálise se originou de diversas ciências e, assim, colabora para o “conhecer” o indivíduo e as suas respectivas necessidades.
o grau de afetividade que envolve a relação do professor com a criança e o que resulta dos laços criados na interação desta com os seus pares representa o fio condutor e o suporte para a aquisição do conhecimento pelo sujeito. (BALESTRA, 2007, p. 50)

Temos nas palavras de Balestra a relação explicitada entre os pares que compõem a organização do saber.
O ser humano é um ser que, segundo os critérios que o encerra, nasce em organismo e se organiza no decorrer do seu aprendizado.

O organismo é também uma máquina no sentido em que este termo significa totalidade organizada, mas de um tipo diferente do das máquinas artificiais, a alternativa ao reducionismo não está num princípio vital, mas numa realidade organizacional viva. Vê-se aqui a que ponto estamos totalmente defasados em relação às alternativas tradicionais: máquina/organismo, vitalismo/reducionismo. (MORIN,2007. p.29.)

O exemplo da problemática de “Jonas” direciona-nos para as dificuldades de entendimento do funcionamento daquilo que nos é estranho. Morin aborda a temática da complexidade na educação como forma de acolhimento e, ao contrário do que poderíamos pensar a respeito, o complexo serve de ponto de partida e não de “nó” para o aprender.
O “maquinário” que nos serve de co-relação indivíduo/indivíduo é o próprio indivíduo. Conhecer-se e conhecer o outro é o que fará o funcionamento dos projetos que direcionamos.
Em suma, o ser humano precisa do outro e as relações no caso “Jonas” se validam pela procura de ajuda para que o menino pudesse ultrapassar as barreiras que o impediam de aprender.
Para tanto, se valida a necessidade de uma relação comprometida e harmoniosa. Embasada na afetividade e no respeito das individualidades.
A escola precisa comprometer-se com o aprendente. Precisa estar ligada aos preceitos teóricos que correspondem as suas ideologias e questionar-se sempre para que possa promover o seu alunado.
Salienta-se, não apenas no caso “Jonas”, mas em todas as relações que se firmam entre o educador e o aprendente o deixar que a criança cumpra o seu papel enquanto criança. Que o indivíduo seja parte do grupo ao qual pertence sem necessariamente ser igual a esse grupo.
Deixar que a criança brinque... Que aprenda exercitando o material que ela mesma constrói dentro de si... Auxilia no seu desenvolvimento pessoal e na sua inserção social.

3- Considerações finais

O sujeito inconsciente, segundo Lacan, é o sujeito desassociado do nosso eu consciente que se apresenta através de um ato falho, sonho, alucinação etc.(ASSIS, 2007. P.62).
Com base nessa premissa, escolhe-se olhar o indivíduo de uma maneira mais complexa e real.
Não basta colocarmos conteúdos e noções desses, se não englobarmos a eles o questionar dos nossos alunos, as pulsões que os determinam, o seu saber prévio construído em suas fases e, até mesmo, não incluirmos os entraves que são deixados ao longo da vida e podem ser retirados com ajuda psicopedagógica e das ciências co-irmãs.
Assis afirma e reafirma a importância do deixar brincar. Diz que isso reforça a relação interno/externo do indivíduo. O identificar-se ara identificar. Uma proposta que tem muita valia no decorrer do processo de aprendizagem.
As fases que delimitam, mas ao mesmo tempo ampliam, o ser humano detalhada por Piaget e Freud, além de outros teóricos, podem auxiliar em muito a escola a perceber que seu alunado é composto, complexo e associa-se ao todo.
Educa-se para o adaptar-se, diria a epistemologia convergente... Fragmenta-se para explorar o global, diria a psicanálise... Organiza-se o organismo complexo e perfeito englobado pela neuropsicologia.
Enfim, amplia-se o ser humano e as suas possibilidades de “abrir a máquina” e perceber que ela ainda tem muito a oferecer em questionamentos.

4- Referências Bibliográficas

ASSIS, Árbila Luiza Armindo. Influência da psicanálise na educação: uma prática psicopedagógica. 2 ed. Ver. Curitiba: Ibpex, 2007
BALESTRA, Maria Marta Mazaro. A psicopedagogia em Piaget: uma ponte para a
educação da liberdade. Curitiba: Ibpex, 2007
PIAGET, Jean. Seis estudos de pisicologia. Rio de Janeiro: Editora Forense- Universitária LTDA 1987.
MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Porto Alegre. Editora Salinas, 2007.
GRASSI, Tânia Mara. Psicopedagogia: um olhar uma escuta. Curitiba: Editora IBPX, 2009.

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