quarta-feira, 25 de agosto de 2010

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA PARA B.T.

PROPOSTA DE INTERVENÇÃO PSICOPEDAGÓGICA PARA B.T.
NADIA JOSIANE ROCKENBACK - RU 536213

1. INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem como enfoque a necessidade de intervenção psicopedagógica no caso proposto de B.T, paciente que apresenta inúmeras dificuldades cognitivas e afetivas.
Serão abordados conceitos relevantes das disciplinas: Organização do Trabalho Psicopedagógico Clínico: elementos de intervenção. e Organização do Trabalho Psicopedagógico Clínico: a intervenção - que servirão de base na pesquisa de novas possibilidades de intervenção e na descoberta de novos caminhos para superação de obstáculos.
Apresentar-se-á a conclusão do diagnóstico psicopedagógico e, no decorrer do texto, algumas das possibilidades de intervenção que nortearão o processo como um todo.
A escolha do “material disparador” como uma das possibilidades de intervenção afirma-se como uma proposta inicial, diante do quadro clínico apresentado. Mas, em momento algum, a escolha se sustenta apenas nesse recurso. Porque, dependerá da evolução sócio-afetivo-cognitiva da paciente.
Enfatiza-se a importância de avaliar, simultaneamente e posteriormente, cada movimento do processo e destaca-se a responsabilidade do profissional psicopedagogo no que tange o compromisso com as necessidades de seu paciente e da escolha do melhor caminho para o desenvolvimento global do mesmo. Assim como, pergunta-se, nas entrelinhas, qual é o papel do psicopedagogo e o quanto esse “aprende” ao interagir com o seu paciente.
O ser humano intervindo e dialogando em prol do desenvolvimento cognitivo de outrem. Facilitador do processo de promoção das habilidades e competências. Enfim, um questionador em busca de novas questões que precisa de ações provocadoras que possibilitem ao outro descobrir-se como ser cognosciente.


2. DESENVOLVIMENTO

2.1. Análise do diagnóstico e do papel do psicopedagogo

CONCLUSÃO: trata-se de uma criança com dificuldades de aprendizagem, que podem estar aliadas aos transtornos de saúde que ocorreram numa fase de grande importância para o seu desenvolvimento cognitivo e emocional*. Portanto, os obstáculos funcionais orgânicos, aliados a fatores emocionais, interferem diretamente em seu desempenho escolar.
(Conclusão do diagnóstico do caso B.T.)

Com base na conclusão do diagnóstico apresentado, temos como paciente uma criança com dificuldades de aprendizagem que podem estar ligadas aos transtornos de saúde e internação que ocorreu dos dois aos cinco anos de idade. Fato esse que acarreta baixo desenvolvimento cognitivo e causa problemas emocionais.
Assim, seguindo esse diagnóstico, percebe-se que B. foi avaliada e encaminhada às diversas possibilidades que as áreas destacadas abrangem, no que tocam os seus obstáculos orgânicos e os fatores emocionais às prováveis reversões desse quadro.
Temos, segundo BARBOSA(2010):

O aprendiz que busca um acompanhamento psicopedagógico no espaço da clínica encontra-se com o psicopedagogo que vai possibilitar a ele a realização de elaborações simbólicas e sínteses importantes por meio de recursos de intervenção psicopedagógica tanto de caráter objetivo quanto subjetivo.


O objetivo, nessa questão, é encontrar meios que possibilitem uma melhoria efetiva na baixa aprendizagem da paciente, mas que não fiquem apenas nesse âmbito externo. Pois, além dos recursos de caráter objetivo, são necessários recursos que interfiram e modifiquem o estado de ansiedade, ou qualquer outro distúrbio interno, que prejudiquem a aprendizagem do paciente.
Sabe-se que o indivíduo precisa conhecer-se e movimentar-se pelo mundo que o abriga com competências desenvolvidas durante a sua vida. Ele não apenas reproduz ou copia comportamentos, mas, interfere, modifica suas diretrizes e, quando se sente incapaz de realizar algo incorpora novas habilidades que possibilitem o êxito desejado.
Quando o paciente está com baixa estima, como no caso apresentado de B.T., não basta enfocar a intervenção psicopedagógica nas dificuldades escolares apresentadas. Isso garantiria apenas uma situação paliativa e não um veículo de orientação e sustentabilidade pessoal da paciente.
Aprender, no sentido da epistimologia convergente, ganha uma definição mais ampla, na qual se insere a possibilidade do paciente de agir e reagir às diferentes possibilidades a ele apresentadas. (grifo meu). Estimulando a capacidade de interação com o meio e a competência de ‘flexibilizar-se’ diante de novos obstáculos.
Para Jorge Vita(2000), citado por BARBOSA(2010, p.15) a atenção psicopedagógica é um processo que “consiste no conjunto de operações clínicas por meio da qual se facilite o aparecimento e a estabilização de condutas...”. Esse processo, nota-se, tem um caminho a seguir, no qual há a interação do paciente, do psicopedagogo e das interferências que ambos realizarão durante esse processo.
Não se trata, portanto, de uma via apenas. Temos as dificuldades apresentadas por B., por exemplo, e um profissional-“receptáculo” (grifo meu) que precisa, depois de observados cada ponto de intervenção, possibilitar que a menina “observe-se” como ser cognitivo e capaz de realizar as tarefas a ela direcionadas, sem medo do “erro”; sem apatia. Enfim, encontrar-se como ser atuante e não passivo.
O acolhimento dar-se-á conforme o vínculo estabelecido entre o profissional psicopedagogo e o seu paciente. Diz BARBOSA p.16 que essa relação supõe confiança, avanços e superações, entre outros fatores.
Acredita-se que cada profissional tem o seu estilo e preparo acadêmico para lidar com as diferentes dificuldades no seu consultório. Assim como, elege-se as variantes tecnocomportamentais como algo que não deixa o profissional engessar-se em diagnósticos e procedimentos únicos. Ou seja, cada caso, um caso... Cada método acompanhando a necessidade que lhe aflora.
Faz-se necessário enfatizar nesse momento que o psicopedagogo deve oferecer meios de ajuda e auxílio, mas não realizar os procedimentos pelo paciente. Isso parece óbvio, mas, no entanto, há uma ação quase sem perceber de diagnosticar o problema, direcionar a intevenção mais ajustada a esse problema e desejar que o resultado seja o esperado. Enfatiza-se a necessidade de movimentação não apenas do paciente, mas do psicopedagogo também. Ambos estão “aprendendo”, pois a cada busca do aprendiz, novas possibilidades serão geradas, conflitadas e questionadas.
Cabe ao profissional, portanto, eleger a si, e ao outro, como veículos de movimento multifacetados. (grifo meu).


2.2. Procedimentos de intervenção
Muitos são procedimentos de intervenção a serem utilizados pelo psicopedagogo. A escolha dependerá do andamento do processo de intervenção e da melhor aceitabilidade por parte do paciente.
A “caixa de trabalho” (uma constante de enquadramento, segundo Jorge Vista) é mais do que apenas um recurso estruturado em um objeto ou dois a serem utilizados. É, por conseguinte, todo o universo de possibilidades ao qual o psicopedago pode usufruir para fundamentar a sua proposta. Inclui o espaço, propriamente dito, com suas vertentes de materiais que poderão ser manipulados pelo paciente; e o espaço criado internamente entre o psicopedagogo e o aprendiz. Reação, poderia definir parcialmente o propósito dessa e de outras constantes de enquadramento.
Outra possibilidade de intervenção, dentre tantas outras, é a “caixa de areia”. Nessa, a possibilidade de manusear e dispor objetos auxilia no processo criativo, assim como resgata a possibilidade de “errar e corrigir”. Essa constante poderia ser incluída no caso de B., no que tange as dificuldades de “agrupar por continentes” e na distorção espacial.
Elege-se, no entanto, como modalidade inicial de intervenção o “material disparador”. Para tanto, leva-se em conta as diversas problemáticas dispostas no diagnóstico psicopedagógico e a variedade de materiais que podem ser propulsores de reações. Além do baixo-custo e da possibilidade de reutilização do mesmo material para outros indivíduos. Critério último também ressaltado por Bossi. BARBOSA, p.138.
Segundo essa autora, “o processo de intervenção psicopedagógico será muito diferente daquela feita pelo professor em sala de aula... visto que esse privilegia o ensino do conteúdo...”. Para o psicopedagogo, o lápis ou o caderno são mais do que um mero acumulador de notas... São, sim, meios ou recursos que acenderão a luz da aprendizagem. (grifo meu).
Assim todo e qualquer material proposto pelo psicopedagogo e escolhido pela paciente poderá ser utilizado para “movimentar” o estado atual da menina, desde o material utilizado pela paciente em sala de aula, como livros e brinquedos, e até mesmo a “caixa de areia”, hipótese levantada anteriormente, servirão de “material disparador”.

2.3. Proposta de Intervenção e escolha dos materiais


A escolha do material disparador deve atender às necessidades de cada sujeito, identificadas por ocasião do diagnóstico psicopedagógico, seja a estimulação do desenvolvimento de suas estruturas cognitivas, seja a estimulação de aspectos funcionais ou emocionais que estejam limitando suas possibilidades de aprendizado.
Vera Regina Passos Bossi. BARBOSA, p.140.

A escolha dos materiais deve ser pautada na ideia de que o cliente precisa deparar-se com diferentes níveis de dificuldades e possibilidades. Isso também auxilia nas questões de estímulo na atividade proposta.
De acordo com o diagnóstico de B.T. a sua capacidade de diferenciar objetos e as noções espaciais e visuais estão comprometidas. Isso agregado ao medo do “erro” e à falta de organização e exposição de pensamentos acarreta extrema dificuldade de aceitação de si como ser cognociente e responsável também pelas mudanças tão necessárias para a sua construção como ser total.
Inicia-se o primeiro contado, depois do diagnóstico, apresentando e disponibilizando à menina os materiais que “são dela”. Dizendo que o manuseio e a utilização dos mesmos fazem parte das escolhas que ela mesma fará. Isso poderá criar uma tensão inicial ou até uma certa apatia diante dos materiais apresentados. Mas, essa ação diz à paciente que ela é capaz de “fazer”.
A cada visita da paciente, um objeto novo. Um reforço das palavras que criam vínculo; Perguntar como foi a semana; Como ela reagiu, se contada alguma novidade. Tudo isso faz com que ela perceba a sua localização no espaço. Suas referências das coisas que a rodeiam é que a “materializam”.
Em algum local da sala deixar aleatoriamente um espelho. Algo que não fique tão à vista da menina, mas que ela possa encontrar ao passear pelo ambiente. A intenção nesse processo é possibilitar que o sujeito “se olhe”, que note as suas reações faciais quando fala, que resgate a percepção de si, tal e qual um bebe faz ao notar a existência dos dedinhos.
Pedir que se olhe de frente, de lado, de costas, que faça caretas, sorria. Entrar na brincadeira é de grande valia. “Ensinar” que o “meu” braço é maior... Que este é o “meu” lado direito e que o espelho “brinca” junto com o psicopedagogo e com a paciente.
Esse recurso pode tangenciar o lúdico, enquanto o concreto é assimilado sem cobranças.
O jogo “Cara a Cara” muito utilizado e outros jogos de memória, mais simples encontrados em caixas de cereais, podem servir de material disparador. As noções de significantes e significados são trabalhadas sem a necessidade das costumeiras repetições em sala de aula. A imagem física da face das personagens, com o passar dos dias, auxiliarão o despertar da menina para as diferenças antes não observadas.
Isso possibilita à paciente criar uma imagem acústica daquilo que é novo e permite que ela faça associação acumulativa. Desencadeia-se dentro da sua cabecinha não apenas as regras do jogo ou uma memória que reproduz o que é visto, mas, sim, uma “trama” de sentidos que a acompanhará por todo o processo de aprendizagem.
Algumas pessoas aprendem mais quando ouvem uma história, por exemplo; Outras, no entanto, precisam olhar o objeto contado. Outras, ainda, precisam criar para que o que foi dito seja entendido e fixado em seu pensamento. No caso de B.T. a insegurança poderá impedi-la de contar a princípio o que fez durante o dia ou uma história com os objetos que escolheu para brincar. Então, porque não oferecer uma história contada e, nas seções seguintes, recortar alguns pedaços da mesma narrativa ou fingir que esqueceu um pedaço. Isso fará com que a memória seja ativada. Vai provocar a reação de querer contar o que faltou ou, pelo menos, questionar-se de que o tempo foi menor durante a contação.
Deixar “buracos” para que sejam preenchidos garante um passo maior da evolução das habilidades temporais e espaciais do que simplesmente dar a história pronta, sem a possibilidade de interferências ou mudanças. Afinal, pretende-se modificar no comportamento da menina o estado de medo de mudanças e falhas.
Nota-se, portanto, que o profissional precisa estar ciente de que não é material disparador que irá resolver cada queixa apresentada, nem será o fixador das problemáticas diagnosticadas. A escolha dos mesmos terá como resultado o próprio resultado diferenciado que apresentar a cada contato. Uma bola de neve capaz de abarcar diversos avanços; um caminho para várias trilhas.
Como a interferência psicopedagógica é construída por intermédio das ações e reações entre os indivíduos e os objetos disparadores, têm-se a percepção que o processo de interferência no caso de B.T. permeia entre o descobrir e o executar a tempo a melhor escolha do material que a auxiliará no seu desenvolvimento cognitivo-emocional.

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Observa-se que toda e qualquer intervenção deve ser sustentada teoricamente, mas o que permitirá a execução da mesma será o compromisso com o sujeito que procura o psicopedagogo e a capacidade de reflexão e flexibilidade diante das atitudes de ambas as partes durante essa intervenção.
Não será de uma hora para outra que os resultados aparecerão a contento dos pais ou escola. Isso deve ficar claro, para que não ajam cobranças nesse contexto família/escola que atrapalhem o processo de intervenção ou que, em caso extremo, possa piorar ainda mais o quadro apresentado.
Descobrir o que a paciente deseja, quais são as suas expectativas diante do mundo e aflorar o que ela, sem saber, esconde de si mesma é um desafio que acarreta compromisso, paciência e releitura das atitudes.
A proposta de intervenção apresentada não finaliza por si só a dinâmica desse processo. Faz-se necessário explorar outras possibilidades, agregar novos conceitos e práticas e, ainda, inventar novos caminhos para que o propósito seja alcançado.

4. REFERÊNCIAS
BARBOSA, Laura Monte Serrat ( Org.). Intervenção Psicopedagogica no espaço da clínica. Curitiba:Editora IBPX, 2010.

Um comentário:

  1. O trabalho do psicopedagogo é fundamental!Deveria ter em todas as escolas publicas!Belo trabalho!Bjs,

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